Em fevereiro tem carnaval. Mas como a gente se sente na quarta feira?
A gente se sente meio merda. Essa é a realidade. Por que meio merda?
Por quê o carnaval é um respiro na vida miserável que a gente leva o ano todo. É trabalho, pressão, boletos, metas e outras bobagens sem importância nenhuma pra existência plena da humanidade. Mas moramos no país tropical, e tudo o que deveria importar é o carnaval. Imagina que loucura, todos na rua, semi nus, por uma semana libertos da moralidade dominante e da culpa em ter um corpo, marchando em uníssono em torno de uma só canção. Mas que canção é essa?
Não sei, mas sei que haverá música, e provavelmente Jorge Ben Jor.
Às vezes são tantas metas a bater que nos esquecemos que dá pra fazer poesia com palavras ao invés de preencher uma planilha com elas. E o carnaval está aí pra isso, para que a gente enfie o excel no c00l, e saia pra dançar na rua, numa dança pública desmoralizada, por que até mesmo gozar e cool são palavras agressivas e proibidas aos ouvidos puritanos.
Mas o Brasil é realmente um país engraçado e contraditório. Como pode, o mesmo lugar produzir as maiores expressões culturais tensionantes com a moralidade hegemônica e ao mesmo tempo ser tão conservador? Como podemos estar, ao mesmo tempo na vanguarda, e na idade média? O Brasil é a própria crise moral da humanidade por natureza. Bonito (ou não) por natureza, onde sagrado e profano se sobrepõem, e o Carnaval é também essa sobreposição contemporânea de céu, terra e inferno. Pois então cuidado! O arrebatamento está vindo! KKKKKKKKKkkkkk
De qualquer forma, mesmo no mar de contradições tupiniquins, eu amo ser Brasileiro. Na melhor das intenções do que poderia ser positivo em se sentir patriota, em sentir -se grato por ter nascido em um lugar que tem Carnaval, Baden Powell, Mestre Capiba, Tom Jobim, Pixinguinha, Bethânia, Paulinho da viola, todos os bambas, etc etc. Se há reincarnação, gostaria de voltar aqui todas as vezes, em especial tocando violão e vivendo todos os fevereiros possíveis.
Pra fechar essa resenha de sentimentos de fim de carnaval, convido você a assistir o Roda Viva com o Thiago França do Metá Metá e da Charanga, um dos maiores blocos do carnaval de rua de São Paulo. Thiago fala de diversas coisas sobre o carnaval do Brasil e de SP, do difícil ofício de ser músico, dos processos de backstage, das oficinas de formação até a chegada aos palcos e à festa:
Carnaval é direito a cidade, é direito à vida, é sentir-se vivo, é pura pulsão. Feliz é aquele que mora no carnaval o ano todo, que nunca esteve recalcado, sempre livre. E não é publipost de absorvente, por que menstruação também ofende a moralidade.
Te desejo muita música, libido, liberdade, Carnaval e uma vida sem recalque.