Os cinco violonistas que mais gosto de ouvir

“Minha viola vai pro fundo do baú, não haverá desilusão”[…] Se depender de mim, Paulinho, minha viola vai pra todo lugar, menos pro fundo do baú. Enquanto eu estiver vivo e com saúde, sei que vou tocar violão. Ah, o violão! Instrumento fascinante. Como pode seis arames amarrados em um pedaço de pau ter mudado o mundo e continuar mudando todos os dias?

Às vezes fico me perguntando, será que o violão um dia vai cair em desuso, como toda essa cultura de ouvir só música com instrumentos digitais? Repare bem na música pop de hoje. Quantas delas tem violão? O Funk, o Trap, o Hip hop. Se tem violão, talvez seja uma exceção para a instrumentação fundamental desses estilos. Na verdade, qual seria a instrumentação “padrão” da música pop? Aparentemente o instrumento mais popular hoje em dia pra se fazer música é o celular. Será que o violão vai continuar sendo protagonista nas manifestações da canção?

Será que instrumentação ou formas (técnicas) pra se fazer música devem ser uma coisa fundamental, ou devem ser ponto de preocupação? Às vezes tenho um pouco de ranço de mim mesmo por ter uma tendência em trazer mais perguntas do que respostas. Mas é porque sinto que qualquer resposta é contextual, ingênua, temporária e transitória. De qualquer forma. resolvi trazer pra vocês hoje a lista dos cinco violonistas que mudaram minha vida, e que dificilmente fico sem ouvir:

5.Marco Pereira

Um dos pilares do violão desde sempre, Marco é um marco na história do violão no Brasil (ba dum tiss). Nascido em 25 de setembro de 1950, suas obras para violão têm sido gravadas e tocadas em concerto por grandes intérpretes ao redor do mundo. O Marco pra mim é símbolo do equilíbrio perfeito. Esse mestre representa um ponto de inflexão maravilhoso do que é o chamado violão popular e erudito, embora possamos pensar se o violão ainda é popular como era no séc. XX.

Bate Coxa – Marco Pereira

4.Raphael Rabello

Em 31 de outubro de 1962, nasce em Petrópolis-RJ, alguém que mudaria a história do violão Brasileiro pra sempre. Rabello tinha um jeito raivoso de tocar. Ao meu ver tinha algo de muito Rock and roll no violão e no lifestyle dele, apesar de basicamente ser um músico do Choro. Eu dividiria o violão de sete cordas em antes e depois de: Dino 7 Cordas, Raphael Rabello e Rogério Caetano. Visceral talvez seja a palavra certa pra descrever a obra do Raphael. Precoce, explodiu em estado de poesia logo cedo, e partiu também cedo. Quero deixar pra você ouvir uma versão de Luiza de deixar a gente de joelhos:

Luíza – Interpretação de Raphael Rabello

3.Marcus Tardelli

Dessa lista aqui, tive o prazer e o privilégio de ter tido aula e pegar direto da fonte, das mãos de dois desses caras. Um deles foi o Marco Pereira no Festival Internacional de Música de Londrina de 2019. O outro foi o Marcus Tardelli, na Oficina de Música de Curitiba em 2020, logo antes do fim do mundo. Tardelli conseguiu um feito absurdo ao meu ver, que é transformar a música de Guinga em algo ainda melhor. O único problema do Marcus, é que ele é muito low profile. Você só vai encontrar um trabalho dele, e nenhuma rede social, nada de canal no Youtube, nem outros trabalhos. O álbum abaixo é uma belíssima interpretação de Marcus Tardelli da obra de Guinga, um violão profundamente emocionado e emocionante. Sério, não morra antes de escutar!

2.Baden Powell

Com uma formação católica, minha relação com o mundo além sempre foi problemática e negacionista desde que consigo me lembrar, por conta de uma série de fatos que talvez eu ainda conte um dia nesse blog. Ao meu ver, há muito de religioso em qualquer gênero musical que toque as pessoas. Os Afrosambas(1966), foi um dos álbuns que me ajudou e me ajuda todos os dias a repensar a metafísica, principalmente a partir das religiosidades Afrobrasileiras. Baden ajudou a fundar mais do que uma obra artística com esse trabalho, mas a fundar escola e reinventar um pouco do violão.
Baden Powell de Aquino nasceu em Varre-Sai-RJ em 06 de agosto de 1937. Muita gente prefere outras gravações desse álbum. Mas minhas duas favoritas são as que tem os arranjos e regência Guerra-Peixe, e a regravação dos anos 90 de Mônica Salmasso e Paulo Belinati, que é simplesmente absurda.

Os Afrosambas (1966) – Baden Powell e Vinícius de Moraes


Os Afrosambas – Paulo Belinati e Mônica Salmasso

1.Guinga

Pra mim, Debussy está pro piano, assim como Guinga está para o violão no Brasil, só que com uma coisa rítmica que só se desenvolveu aqui. Autodidata, sempre reafirma em suas entrevistas que sua relação com a música e a composição é muito intuitiva, e que não sabe ler ou escrever música. Inesperada e cheia de coloridos, o Guinga também é mais um violonista que ouço quase todos os dias e que mudou minha vida pra sempre, principalmente com o Choro pro Zé. Por alguma razão, aquelas melodias meio tortas na cor do dó menor abriram algum caminho diferente dos que tinham antes em minha cabeça. Carlos Althier de Sousa Lemos Escobar(Guinga) diz também que “Cada vez que componho é como se fosse a última”. Profissionalmente, tocou violino com vários artistas renomados bem como Clara Nunes, Beth Carvalho, Alaíde Costa, João Nogueira e Cartola. Além disso como compositor já teve obras gravadas por Elis Regina, Michel Legrand, Chico Buarque, Ivan Lins, e diversos outros. Mesmo sendo um compositor e violonista brasileiro dos mais importantes da atualidade, Guinga participou de um podcast recentemente dizendo que enfrenta problemas financeiros, e que teve que vender a maioria de seus violões. Tive a experiência de ver ele tocando em Maringá em 2019 com Mônica Salmasso, Teco Cardoso e Carlos Malta, você sentindo sua alma toda pulsando, fluindo. Numa viagem tão absurda que você quer voltar e viver a mesma sensação de novo e de novo. Pra mim é um prazer inexplicável dividir o mesmo espaço e tempo de existência com um ser como esse e os outros que compartilhei aqui.

Sem dúvida ficou uma cacetada de gente de fora dessa lista, mas vamos deixar pra uma outra conversa. E você, ouve violonistas? Quais são teus cinco favoritos? Dropa aí nos comentários pra gente!

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