Canções populares são músicas que transformam a simplicidade em algo gigante. Pode ser um refrão grudento, uma melodia que que é feita pra ser lembrada. Pode talvez ser uma coisa repetitiva que talvez nos dê até mesmo sensação de ser tão familiar, que sentimos quase como se que aquilo fosse uma espécie de ritual, como uma oração, em que não se sabe o momento exato em que aprendemos.
Entretanto, cada povo se relaciona com os sons à sua forma, em diferentes épocas e contextos ao longo da nossa existência humana nesse ponto azul perdido na imensidão chamado de Terra.
Nesse sentido, nossa música popular é como a cara do povo brasileiro: uma maçaroca de gente e influências, já que nossas raízes musicais tem influências de modinhas, lundus e danças europeias. Assim, do ponto de vista da harmonia, os colonizadores realmente exerceram um domínio também formal em relação a como fazemos música. O próprio sistema tonal como um todo pode ser visto como uma grade em si, a regra, a norma, a afinação.
De qualquer modo, apesar do Brasil ter uma mistura de povos muito característica da gente até hoje, as pessoas que tem acesso ao ensino formal de música ainda são privilegiadas. Quantas pessoas você conhece que tem um piano em casa? Tô falando de piano mesmo, pianão brabo de calda? E um violão? Pois é, o violão talvez ajude a explicar porque a coisa da canção bateu forte na nossa cultura, junto com a rádio am/fm, o Spotify do século passado. É muito mais fácil ter um violão pra jogar nas costas e sair carregando por aí, ir pra um boteco ou uma taverna, encher a cara de cachaça com os amigos e fazer música em qualquer lugar, do que tentar o mesmo com o piano.
Saber os porquês
Meu objetivo aqui, não é só te falar dos conteúdos, nem só passar fórmulas, porque eles já estão por aí no caos da internet, desordenados, e sem curadoria, mas estão. Vamos aos poucos conversando também o por quê estudamos harmonia e compomos música dessa forma. Harmonia da canção brasileira é um nome presunçoso e provocativo, porque não existe só uma canção, muito menos só uma harmonia no Brasil, é só um nome pra segmentar público, definir um foco, e pra te levar a pensar. Eu quero te falar agora a coisa mais importante que você precisa saber nesse curso: Não existe harmonia certa. De toda essa maçaroca que estamos conversando, o que vamos focar aqui é a harmonia tonal. Mas, me diz aí, quando alguém te diz numa roda de amigos tocando violão:
“pega essa música aqui ó, é Ré maior!”
O que você faz?
Atividade 1
Assista à atividade do vídeo aqui em baixo:
- Toque só melodia;
- Toque o nível I, o II e o III;
- Toque o nível I, o II e o III falando o nome dos acordes, e depois dos graus do C.H.
- Mude a ordem dos acordes de base, trocando todos eles como bem entender
- Me conta o que você achou dessa troca:
- Quais sensações ficaram diferentes?
- Como as notas fortes (tempo 1) se relacionam com os acordes que você escolheu
- Por que fez essas escolhas?
E se eu te disser: pense em um carro agora, como é o carro que veio à sua mente? Onde ele está? Pra entender harmonia, é preciso entender que algumas coisas tem um significado em si mesmo, e outras são ideias que fazem mais sentido quando estão organizadas no tempo. Quando os sons que to emitindo saem da minha boca, chegam no seu ouvido e você em uma fração de segundos junta todos eles, e aí a coisa faz sentido, isso é um pouco parecido com a melodia. Sons jogados no tempo que juntos fazem algum sentido. Já a harmonia é uma questão de paradigma, contexto, roupa. A harmonia veste a melodia com uma entidade, o acorde. Uma é vertical, a harmonia, e outra é horizontal, a melodia. Pegou a visão?
Quando a gente tocou o Cravo Brigou com a Rosa, usamos os três níveis da harmonia tonal, que são:
● Base
● Trilha
● Dominantes secundários
Atividade 2
- Pega a visão dessa canção de Catullo da Paixão Cearense;
- Você já deve ter ouvido essa canção de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco chamada Luar do Sertão, mas eu vou trocar toda a harmonia dela, em nível de base apenas, pra que você procure tentar com seu ouvido tocar o que tá acontecendo usando os acordes que eu escolhi
- Agora você vai escolher seu ritmo, seguir um pulso e tocar sem cifra, pegando a visão apenas pelo número do grau do C.H.
- Quais semelhanças entre essas canções do começo do século XX e as canções folclóricas que a gente sempre conheceu você consegue fazer?
Solta aí nos comentários pra nóizz
Na verdade, se você conseguiu entender a aula de hoje, você meio que já entendeu o que é harmonia tonal. Todo o resto do que vamos conversar no curso deriva dos assuntos que vimos aqui hoje e desses três níveis. Eu acredito de verdade que as perguntas são muito importantes quando a gente tá aprendendo. Por isso quero que você faça pra você mesmo essas perguntas quando você tá analisando a harmonia de uma canção nova:
- O que a melodia já não te disse?
- Como a melodia se relaciona com as notas graves?
- O que tá na ponta e o que está no baixo?
- O que é trans relacional? Onde consigo ouvir essa mesma coisa?
- Como consigo ter referências afetivas para esse som? Quais outras músicas tem esse mesmo acorde? E essa sequência de acordes?
Aqui em baixo tem o pdf das aulas pra você estudar em paz e com calma:
Referências
FAIRBAIRN, ALBERTO AMERICANO. TOCAR DE OUVIDO: REFLEXÕES SOBRE A APOSTILA “INTENSIVO: TIRANDO MÚSICA DE OUVIDO” DE NELSON FARIA, A PARTIR DA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE O TEMA.
Lundu, por Mário de Andrade
PAZ, Ermelinda Azevedo. 500 canções brasileiras. L. Bogo Editor, 1989.
TABORDA, Marcia. Violão e identidade nacional. 2011. https://www3.livrariacultura.com.br/violao-e-identidade-nacional-22625685/p