A academia me persegue ou eu persigo a academia?

Todos os dias penso na crise que é ser pesquisador e artista. Uma coisas parece ser antítese da outra. Arte não tem modelo, não tem objetivo, não tem resumo, não deveria ter limites. A pesquisa é dura, é metódica, é rigorosa, primeiro abstrai, e muito tempo depois testa, homologa. É verdade que a arte tem seus modelos, seus cânones, suas “obrigações”, pra trazer um termo Chorão. Mas o ponto é que um produz um modelo pra explicar um fenômeno, e o outro tende a ser o fenômeno sem modelo, só a experiência vivida.

Mesmo assim insisto na academia, e nos últimos meses, tive dois trabalhos publicados. Se nós que viemos da periferia não ocuparmos a academia, quem vai continuar ocupando? Por isso, mas não só, escrevo sobre colonialidades em música. O primeiro trabalho foi publicado nos Anais do I Seminário Integrado de Dissertações e Teses PPEdu 30 anos, um evento que celebrou os trinta anos do programa de pós graduação em Educação da UEL. O segundo foi publicado nos anais do SEDU – Semana de educação 2024 da UEL também.


O primeiro é um prelúdio dos trabalhos que venho desenvolvendo no Mestrado, e é uma prévia da dissertação.

Processos de conscientização e aprendizagens de repertório musical no contexto da licenciatura em música – Um Estudo de Caso.

A música, em sua variedade de significados, abrange tanto aspectos linguísticos, enfatizando sua construção social, quanto elementos subjetivos, destacando as expressões individuais. Ela se apresenta como um tipo de discurso carregado de significados e com diversas funções sociais. Como tal, a música pode ser compreendida como uma realidade que aponta para outras realidades, reveladas por meio de diversas formas estéticas e sociais. Nesse contexto, o repertório, essencial para a formação e experiência na música, é constituído por diversos aspectos e pode influenciar nossa subjetividade e compreensão do discurso musical. Esta pesquisa adota uma abordagem qualitativa, fundamentada no estudo de caso, com o propósito de investigar os processos de conscientização e aprendizagens de repertório musical no contexto da formação do licenciando em Música. Nesse sentido, baseia-se, principalmente, em contribuições de três teóricos representativos de diferentes áreas do conhecimento: Paulo Freire (1921-1997), Lucy Green (1957-) e Pierre Bourdieu (1930-2002). A coleta de dados se dará em um curso de graduação em Música, de uma universidade pública, por meio dos seguintes instrumentos: 1) entrevistas semiestruturadas; 2) análise documental; 3) inventário da trajetória e práticas musicais dos participantes. Espera-se que este estudo revele não apenas as significações dos estudantes acerca do repertório e suas aprendizagens, mas também os contextos institucionais que formam o músico e professor de música. Assim, pretende-se contribuir para uma compreensão mais ampla e consciente do papel da música na educação e propor práticas músico-pedagógicas mais inclusivas, democráticas e reflexivas.


O segundo é também na mesma direção, mas voltado um pouco para a discussão do consumo e produção musicais.

Produção e Consumo musicais: o Repertório como foco de provocações decoloniais no ensino superior de Música.

A indústria musical, que se consolidou no século XX, passou por profundastransformações com o advento e popularização da internet e a disseminação dearquivos digitais. Nesse contexto, inegavelmente, ocorreram mudanças significativasna indústria fonográfica que repercutiram na educação musical, de modo que explorartemas como pirataria, streaming e padrões do consumo de música tornam-seassuntos fundamentais para discussão dos processos envolvendo as aprendizagense conscientização do repertório musical, sobretudo no ensino superior de música. Ametodologia deste ensaio teórico fundamenta-se na análise crítica de autores decampos teóricos diversos, como Educação, Sociologia e Educação Musical, com oobjetivo de investigar como a produção e o consumo musicais são influenciados poralgoritmos e intermediários culturais, e de que forma estes aspectos podem impactaros repertórios legitimados no ensino superior de música. As reflexões realizadaspermitem interpretar que tanto os repertórios valorizados pelos algoritmos dasplataformas de streaming quanto aqueles validados pela academia frequentementerefletem, na análise desenvolvida, uma perspectiva colonialista, que favorece algumasculturas em detrimento de outras. Assim, é essencial estabelecer um diálogo com osestudantes acerca de suas práticas de repertórios musicais, visando um ensino maisdialógico e menos centrado numa perspectiva colonialista.

Fica aí a leitura se você gosta de se aproximar do assunto!

ORCID: https://orcid.org/0009-0009-8216-0473
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9058619459840985

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